Fazer história dentro e fora das piscinas. Esse é o destino de um dos maiores atletas paralímpicos do Brasil: Clodoaldo Silva. Nascido em Natal (RN), em 1º de fevereiro de 1979, perdeu a mobilidade nas pernas devido à falta de oxigenação durante o parto. Até os sete anos, Clodoaldo não andava. Foi nessa idade que começou a passar por cirurgias para tentar recuperar os movimentos. Até que, após o quarto procedimento cirúrgico, o médico lhe recomendou a natação para acelerar o processo de reabilitação.
Assim começava a história de uma carreira de 13 medalhas paralímpicas, contada pela perseverança e pela superação, ingredientes fundamentais no dia-a-dia de Clodoaldo. Segundo o atleta, o destino foi o responsável por levá-lo a nadar no mesmo local em que a seleção do Rio Grande do Norte treinava.
“Antigamente, o estado potiguar era um pólo da natação paralímpica e eu sempre gostei de acompanhar a modalidade, mas nem sabia nadar. Era uma condição muito distante de mim. Desde as primeiras aulas senti que a natação faria parte da minha vida”, lembra o medalhista. Em sua primeira competição, um ano depois de começar a nadar, em 1998, Clodoaldo conquistou três medalhas de ouro.
Depois da estreia dourada, vieram inúmeras vitórias para o “tubarão das piscinas”, como ficou conhecido. “A medalha que mais me emocionou foi a última conquistada nos Jogos de Atenas, em 2004, ouro no revezamento. Eu já sabia o que era chegar ao lugar mais alto do pódio, mas meus companheiros tinham batido na trave várias vezes. Eu queria que eles pudessem sentir o que eu havia sentido. Em provas de revezamento, mesmo cansados, encontramos forças para nadar pela equipe. É muito bom ser recordista, mas é melhor contribuir para a felicidade dos outros”, conta o atleta.
Associado da Atletas pelo Brasil desde 2006, quando foi convidado pelo então presidente Raí, o nadador é defensor do trabalho da entidade. “É sensacional fazer parte de uma organização que reúne grandes ídolos. Além disso, eles são também grandes pessoas. Não adianta ser o melhor e não dar exemplo. Todos na Atletas têm esse diferencial. Sinto-me muito bem em fazer parte desse grupo”, diz.
Além de integrante da Atletas, Clodoaldo ainda criou o Instituto Clodoaldo Silva, em sua cidade natal, e ajuda projetos sociais em Rio das Ostras (RJ). “O Instituto, por enquanto, está parado porque estou priorizando minha preparação para os Jogos do Rio-2016. Mas, em Rio das Ostras, estou envolvido em projetos sociais, ministrando palestras, nadando com crianças e jovens e falando sobre mim, minha carreira e como consegui chegar onde estou. O objetivo é criar cidadãos pelo esporte, acrescentando a noção de respeito e dignidade”.
Para quem pretende seguir o trajeto de Clodoaldo, o campeão das piscinas tem algumas dicas. “Ser atleta de alto rendimento e ainda conciliar o trabalho social é um desafio. O ideal é, mais para o final da carreira, começar a frequentar e acompanhar grupos que realizam esse tipo de trabalho, visitar ONGs e entidades e, o mais importante, capacitar-se, adquirindo conhecimento. Assim, a atividade será desenvolvida com segurança e da forma correta. Procurar a Atletas e seus associados, que têm experiência nessa área, também é uma boa”.
Aposentadoria – Segundo o nadador, sua aposentadoria está próxima. Clodoaldo quer ‘pendurar a sunga’ após os Jogos do Rio-2016. O atleta retomou a preparação para garantir a vaga após quase um ano parado devido a hérnias de disco. “O que perdi no ano passado, por causa das dores, terei tempo para recuperar. Neste ano são cerca de dez torneios, mas nenhum com a responsabilidade de resultados, ou seja, é um ano reservado aos treinos. Já em 2015 terei o Campeonato Mundial e o Parapan-americano, seletivos para o Rio-2016”.
E para o futuro? Clodoaldo afirma que quer continuar fazendo história no País, ajudando a divulgar o esporte paralímpico e a reduzir o preconceito. “Depois de Atenas-2004, o Brasil viu que os atletas com deficiência são como os outros. Tornei-me ídolo e referência no esporte paralímpico, que está crescendo muito, mas ainda vejo que faltam informações”.
A forma encontrada por Clodoaldo para contribuir é por meio do jornalismo. Ele possui dois programas de rádio (na Bandnews e na Bradesco Esportes FM), e ministra palestras. “Estou no Grupo Bandeirantes desde 2012, com meus programas de rádio, nos quais falo sobre as competições e atletas paralímpicos. É algo de que gosto muito e quero continuar abrindo portas para esse novo mundo profissional. Também voltarei com força máxima às atividades do Instituto Clodoaldo Silva. Quero que a história continue, mas agora, fora das piscinas”. Vai que é sua, Clodoaldo!